Epifania

3 de Janeiro de 2021 - ANO B

Adoração dos Reis Magos – gravura de Bartollozzi, séc.XIX

Irmãs e Irmãos, renovo os votos de que se encontrem bem, e que esta Palavra nos dê o olhar amoroso de Deus. A Epifania mostra-nos o Menino, Filho de Deus, adorado pelos Reis Magos, que representam os povos pagãos, não pertencentes ao Povo de Deus. Nós estivemos incluídos nesses personagens.

1. Epifania, luz de Deus para o mundo

Primeira leitura

     Abrimos o olhar para a primeira leitura e escutamos o profeta Isaías a exclamar: “resplandece, Jerusalém porque chegou a tua luz e a glória do Senhor brilha sobre ti”. ... A sua glória te ilumina”.

     Com estas palavras, “resplandece, Jerusalém”, Isaías mostra a cidade repleta de luz; podemos imaginar as nossas ruas com as iluminações, no tempo de Natal. Por quê esta luz? Isaías está na época depois do exílio na Babilónia, Deus vai receber novamente Jerusalém como sua esposa: motivo de grande júbilo: “a gória do Senhor brilha sobre ti”.

     Esta página é repleta de poesia, e o profeta vê as nações a caminhar para Jerusalém. “Todos se reúnem e vêm ao teu encontro. Mas tanta alegria só se explica porque Isaías vê à distância a presença do Messias, a presença do Menino que para nós nasceu em Belém. “Virão todos trazendo ouro e incenso, e proclamando as glórias do Senhor”, diz o profeta. O que brilha em Jerusalém é a presença do Messias, luz para o mundo. Estamos perante o “universalismo da salvação”. É a luz que resplandece em Jerusalém, para todos os povos.     

Nós precisamos dessa luz que vem da presença de Deus no mundo. Sem essa Luz, a humanidade permanece nas trevas: nas guerras, nos atropelos, nos muros que separam. O muro de Berlim foi uma barreira, durante 28 anos, desde 1961 a 1989. Recordamos as pessoas com marretas a derrubarem esse muro da vergonha.

Hoje há outros muros, contra os cristãos, contra a família, contra a Igreja e contra muitos pobres…É melhor construir pontes do que levantar muros. Ou como disse um pensador, “mais vale acender um fósforo do que maldizer a escuridão” (frase na internet). Ora em Belém acendeu-se a grande luz, o Menino Deus, que faz resplandecer Jerusalém. Luz para todos os povos. É a luz da Fé, a iluminar o nosso caminho.

2. Epifania, Luz para a fraternidade

Segunda leitura

          São Paulo, na Carta aos Efésios, também vê essa luz, que é Cristo, e declara: “Neste mistério (de Cristo)  foi revelado que todos somos chamados a formar um só corpo. Jesus nasceu em Belém para trazer a fraternidade ao mundo; Jesus mostrou-se aos Reis Magos, e mostra-se hoje através da Igreja, para sermos irmãos. E diz também São Paulo numa das suas cartas: “Não há judeu nem gregos… somos todos um em Cristo” (Gl 3,28).

          Temos grande pena que haja conflitos. Na mensagem de Natal, o Papa acenou a povos que anseiam pela paz. Sabemos que no norte de Moçambique há grande sofrimento, com milhares de desalojados. “Somos chamados a formar um só corpo”.

3. Epifania, Luz que se realiza na Igreja

Evangelho

     Hoje, na Epifania, os Reis Magos foram a Jerusalém guiados por uma estrela. … “Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. A luz dessa estrela pode representar a fé dos Magos, a nossa fé.

     E quem acende a luz de Cristo no mundo? Nós, os cristãos. Qualquer pessoa humilde pode ser essa luz. A Fé dá-nos a maior riqueza do mundo: Jesus Ressuscitado, nosso Irmão. E a sua Palavra é caminho para a Fé. E nós podemos evangelizar com a nossa vida. É interessante este conselho atribuído a Francisco de Assis: “devemos evangelizar… e se for preciso, alguma vez com a palavra” (frase na internet). Queria ele dizer: evangelizar também com a vida.

     Herodes não aceitou essa luz. Ficou nas trevas, e deu a morte aos meninos de Belém, com dois anos ou menos. Quando a humanidade se afasta de Deus, comete crimes. Há sempre uma estrela no céu, a orientar-nos para Jesus. A humanidade não pode viver fora de Deus. 

     A “Luz da Fé” é o título da primeira Encíclica do Papa Francisco. Ele reconhece que apenas a Fé nos dá a luz que a simples razão não concede dar-nos. “Quem acredita, vê com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, porque nos vem de Cristo Ressuscitado, estrela da manhã que não tem ocaso”[1]. Epifania, Luz da Fé para caminharmos pela verdade e pelo amor.

Padre António Gonçalves SDB

[1] Papa Francisco, Luz da Fé, n. 1