REZAR O OLHAR
Oliveira
Partilho o texto da meditação de ontem, segunda-feira para a meditação e oração do terço, do Cardeal José Tolentino de Mendonça, enviado pelo Ir. Manuel Silva.
(A. Oliveira)
Ensina-nos, Senhor, a ver com o coração aquilo que os nossos olhos sozinhos não vêem.
Ensina-nos a passar da observação rápida e superficial da vida àquela forma de atenção que é já em si uma prática de hospitalidade e de respeito, e torna possível uma ética da relação.
Ensina-nos a transcender as visões parcelares, pois Tu criaste os nossos olhos para atenderem à complexidade e à inteireza que não devemos temer, mas aprender sim a abraçar progressivamente.
Ensina-nos a deixar de lado a rigidez do olhar que apenas julga, mas não reconstrói; que classifica depressa com uma etiqueta em vez de escutar em profundidade; que declara irremediável e perdido, quando o Teu chamamento é a procurar e salvar.
Ensina-nos a sabedoria de ver na fragilidade o que pode constituir uma alavanca, no sofrimento o que pode representar uma força, nas estações apagadas da nossa travessia o sítio onde se esconde o fogo.
Ensina os nossos olhos a se deixarem surpreender pelo espectáculo da vida – esse para quem souber ver é sempre novo -, conservando aquele quinhão de inocência que é o segredo incessante da gratidão e da alegria.
Ensina-nos, Senhor, a contemplar pacientemente, como uma coisa só, o visível e o invisível, a sonoridade da palavra que escutamos e a música do silêncio que nos visita, o que nos parece ser ainda o vazio e o que acreditamos ser já a indiscutível certeza de uma presença que nos acompanha e segura.
Cardeal José Tolentino de Mendonça
16.05.2022