REZAR A NOSSA ORAÇÃO APRESSADA
Oliveira
Partilho o texto da meditação de ontem para a oração do terço do Cardeal D. Tolentino, enviado pelo Ir. Manuel Silva.
(A. Oliveira)
Entrego-Te, Senhor, esta minha oração feita de monossílabos, de frases quebradas, cheias de elipses; esta pobre oração encaixada entre idas e vindas, sempre com o coração meio em fugida, neste acelerado quotidiano sem tréguas.
Entrego-Te, Senhor, esta oração feita mais de olhares do que de discursos, cheia de pedidos lançados em chamas como um SOS, cosida de fragmentos, de gestos nervosos a que não damos o tempo necessário para crescer; esta oração que atiro para Ti desejando, apesar de tudo, que se torne uma amarra, uma corda estendida que nos ligue.
Entrego-Te, Senhor, esta oração desconexa como uma conversa sem rumo; esta refeição composta só de migalhas; este tracejado feito só de intenções adiadas; esta agitação que Tu chamas a aceitar-se e a se transformar em escuta, mas que quase nunca consigo.
Entrego-Te, Senhor, esta oração que repito mentalmente, como uma tabuada, mas onde não chego a entrar com aquilo que sou; esta oração arrumada por fórmulas que reconstruo sem permitir que floresçam e se prolonguem no fundo de mim; esta oração correcta do ponto de vista formal, mas da qual o corpo e a vida estão ausentes.
Entrego-Te, Senhor, esta oração ainda incipiente tantos anos depois; ainda hesitante e aos ziguezagues, mesmo se nunca deixasTe de estar comigo; esta minha oração que avança pelos dias aos tropeções cegos, mesmo se, na verdade, Tu me levas ao colo.
Cardeal D. José Tolentino de Mendonça
27.09.2021