ORAÇÃO DIANTE DA MANJEDOURA
Oliveira
Partilho o texto de meditação da oração do terço de segunda feira enviado pelo Ir. Manuel Silva.
(A Oliveira)
Escolheste nascer aqui, Senhor, neste precário centro que é a nossa carne, entre a sede e a escassez que os dias levantam. Escolheste nascer no desamparo rasante das nossas paisagens e habitar como nós este humaníssimo e fragmentário tempo que, por vezes, parece só guardar o peso de ser tarde. E não evitaste para nascer os redemoinhos de cinza onde acampamos, ou o fluxo das nossas incertezas, dilemas e cansaços.
Mas se vens ao nosso encontro, Senhor, é para que caminhemos para Ti e, mesmo na nossa dispersão, Te possamos encontrar. Se olhas para nós é para que Te possamos ver. Se nos escutas é para que nos saibamos atendidos. Se estendes para nós os braços é para que nos sintamos abraçados. E se nasces em cada ano é para que possamos renascer.
Por isso, Senhor, nos colocamos desarmados diante da tua manjedoura a rezar.
Que os Teus olhos, Jesus, ensinem largueza e altura aos nossos olhos. Que os Teus olhos desimpeçam a visão fragmentária, parcial e indecisa, que ainda é a nossa.
Ensina-nos como se constrói a manjedoura onde é ainda possível nos reinventarmos. Ensina-nos, por exemplo, que duas mãos que se avizinham são uma manjedoura.
Que a misericórdia e o perdão são as traves de uma manjedoura. E que uma vida fraterna habita, mesmo sem saber, dentro do mistério do Natal.
Cardeal José Tolentino de Mendonça
14.12.2020