O DOM E A APOSTA
Oliveira
Partilho a oração de ontem segunda feira do Cardeal Tolentino de Mendonça enviada pelo Ir. Manuel Silva
(AOliveira)
Penso naquele homem da parábola de Jesus que, atemorizado, esconde na terra o seu talento. Ele inutiliza assim o dom recebido e fá-lo, em grande medida, por causa da imagem que tem do seu senhor. Ele diz: “Senhor, sempre te conheci como um homem duro que ceifa onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo, e escondi o teu talento na terra” (Mt 25:24-25). Este homem, por uma falta de confiança fundamental, fica paralisado. A imagem que tem de Deus é a de uma autoridade implacável, sem amor, e isso enfraquece-o. Esta paralisia interior determina uma incapacidade de arriscar, de viver, de se lançar na aventura da própria vida. Ele prefere manter-se de fora, como espectador. E torna-se, assim, inútil, por não ter sido capaz de interpretar, correctamente, a dinâmica do dom. Nos seus “Pensamentos”, Blaise Pascal faz a apologia da vida crente como aposta e escreve que a nossa dramática imprudência é quando não arriscamos.
Por isso te peço, Senhor, dá à minha vida a esperança do semeador que confia mais na potencialidade da semente que no catálogo de obstáculos que podem impedir a sua germinação; dá-me esse elã dos que partem estrada fora mais confiados no caminho do que na segurança que transportam no alforge; ensina-me, com Maria, a dizer sim.
Cardeal José Tolentino de Mendonça
16.11.2020