MARTÍRIO DE INOCENTES
Oliveira
Segue abaixo o artigo do Dr. Pedro Vaz Patto, já publicado no jornal Voz da Verdade, mas que a COPAEC transcreve, com a devida vénia para os seus leitores.
Um abraço.
AGPires
Quando se sucedem dramáticas notícias sobre a prática de abusos sexuais de crianças e adolescentes perpetrados por sacerdotes e em ambientes eclesiais um pouco por todo o mundo, também merecem destaque exemplos de ação de defesa e proteção de crianças e adolescentes da responsabilidade de sacerdotes e da Igreja católica, em coerência com a mensagem evangélica que, contra a corrente da cultura antiga, apela ao amor preferencial pelos mais pequenos e inocentes. Uma dessas ações, pouco conhecida entre nós, é, precisamente, relativa à defesa das vítimas da pedofilia e da pornografia infantil: a do sacerdote italiano Fortunato di Noto e da associação Meter (www.associazionemeter.org), por ele fundada, ação retratada no livro de Roberto Mistreta Don Fortunato do Noto – La mia battaglia in difesa dei bambini (Paoline, 2021). Não conheço, mesmo, no âmbito do combate à pornografia infantil uma ação de tão vasto alcance como esta.
A associação Meter dedica-se à denúncia de redes de pornografia infantil e de tráfico de crianças para exploração sexual através de buscas na internet com as mais sofisticadas técnicas de navegação (as quais permitem o acesso à chamada deep web, onde se situa a maior parte das provas desses crimes). São aos milhares as denúncias enviadas anualmente a polícias de todo o mundo, algumas que levam à libertação de muitas das vítimas, outras que se deparam com dificuldades de vária ordem (como as relativas à cooperação internacional entre polícias e autoridades judiciárias) e acabam por não ter seguimento. São na ordem dos milhões as fotos e vídeos que todos os anos são detetados. Questionado sobre a coerência evangélica desta ação de denúncia de crimes junto de entidades policiais por parte de um sacerdote, o Pe. di Noto não tem dúvidas de que desse modo está a contribuir para a libertação de milhares de vítimas vulneráveis, indefesas e inocentes (e assim tem sido, efetivamente).
O conteúdo dessas fotos e vídeos é algo de indescritível e que atinge os limites da maior perversão (tenho tido ocasião de o confirmar em processos de que tenho tido conhecimento na minha profissão de juiz). As vítimas podem ser da mais tenra idade, até recém-nascidas. À exploração sexual muitas vezes se associa o sadismo e a tortura. Através da internet são trocadas, além das imagens, informações sobre formas de “compra” de crianças por catálogo. São astronómicos os montantes monetários envolvidos.
Também desse modo se difunde a pseudocultura pedófila, a tentativa de normalização e a apologia das relações pedófilas (a ponto de serem celebradas jornadas de “orgulho pedófilo”) e o negacionismo dos seus efeitos nocivos. Mensagens desse teor dirigidas às potencias vítimas (às próprias crianças) também se encontram nesses sítios da internet.
Ao contrário do que por vezes se afirma para justificar o livre acesso à pornografia, o consumo de imagens de pornografia infantil não é um sucedâneo da efetiva prática de abusos, mas estimula essa prática e com ela está muitas vezes associado.
Para além dessa ação de denúncia, a associação Meter dedica-se ao apoio às vítimas de abusos sexuais de crianças e adolescentes, e suas famílias, tal como a ações de formação nesse âmbito. A respeito da necessidade desse apoio, é significativo o que tem afirmado o Pe. di Noto sobre a persistência no tempo dos traumas desses abusos: uma criança abusada vive presa num corpo de adulto e está aí, a gritar, na escuridão e com medo, à espera de ser libertada. São duríssimas as palavras que ele tem usado quando se refere a sacerdotes responsáveis por esses abusos.
Calcula-se que sejam cerca de dezoito milhões, só na Europa, as crianças vítimas de abusos sexuais. Há indícios de que esse número vai crescendo. Com razão, fala a este respeito o Pe. Fortunato di Noto em holocausto silenciado e que muitos ignoram.
Pedro Vaz Patto