Homilia do IV Domingo da Quaresma - reflexão
Oliveira
4º - Quaresma A
“Comecei a ver”
Deus, Luz na pessoa de Cristo, que desfaz as trevas
Irmãs e irmãos, já alguma vez ficastes às escuras, por ter faltado a luz? Parece-me que a palavra luz está no centro das nossas leituras. Nós precisamos da luz do sol, e sobretudo, da luz de Deus.
- Deus, ilumina as pessoas
Primeira leitura
A primeira leitura mostra-nos como foi a luz de Deus a escolher o rei David para governar Israel. O profeta Samuel sentiu-se chamado por Deus para a escolha de um novo rei. Viu na casa de Jessé um jovem de boa aparência, forte, e pensou: “certamente é este o ungido do Senhor”. Mas ouviu uma voz interior a dizer-lhe: “Deus não vê como o homem. Deus vê o coração”. Samuel esperou, até que chegou David que andava a guardar o rebanho, e ouviu a voz de Deus: “Unge-o, porque é este o escolhido para rei”. “E o Espírito do Senhor apoderou-se de David”.
Samuel teve a luz de Deus e com ela escolheu David para rei de Israel. A luz de Deus ajuda-nos a encontrar o caminho certo. Deus ilumina o mundo para o bem.
- Deus ilumina e afasta as trevas
Segunda leitura
São Paulo sentiu que estar longe de Deus é estar nas trevas. O apóstolo dirige-se aos cristãos de Éfeso, na parte ocidental da Turquia, e serve-se também do símbolo da luz, dizendo: “Vós antes éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor”. Imagem bonita, a significar: luz, verdade, fé. E Conclui S. Paulo: “Assim Cristo brilhará sobre ti”. De novo a imagem da luz a dizer-nos Deus afasta as trevas do erro com a sua luz. Uma reflexão sobre o nosso Baptismo, que nos coloca na Luz de Cristo.
- Deus ilumina e dá-nos Jesus
Evangelho
A imagem da luz aparece ainda com mais significado no Evangelho de S. João. Aqui vemos um confronto entre luz e trevas; verdade e mentira; fé e descrença.
Um cego de nascença aproximou-se de Jesus e cheio de fé, e diz: “Eu creio, Senhor”. E com a intervenção de Jesus começou a ver. Mas os fariseus recusaram esta luz de Cristo. Opuseram-se à luz, à verdade, à fé; e expulsaram o homem do templo.
O homem que era cego antes de ser curado por Jesus significa a humanidade antes de ter a luz da fé. Como disse S. Paulo na segunda leitura: ”Vós éreis trevas… mas agora, (com Cristo), sois luz”. Deus dá-nos a luz com a fé.
Nós precisamos da luz da fé, da luz de Cristo, para ver a dimensão das coisas; para vivermos na verdade, na fé, na justiça, no amor. Tudo o que nos afasta de Deus é treva. E os ataques à Igreja, à família, à vida, são trevas.
O cego lavou-se na piscina. Nós lavamo-nos na água da confissão. Precisamos que a nossa vida seja iluminada com a purificação.
Gregório de Nazianzo dá-nos uma imagem bonita da nossa vida na luz da caridade para com os irmãos. Diz assim: “honremos Cristo,… não só oferecendo ouro, incenso e mirra, como os Magos; não só sentando-O à nossa mesa, como Simão; não só ungindo-O com perfumes, como Maria; não só dando-lhe um sepulcro, como fez José de Arimateia; não só provendo o necessário para a sepultura, como Nicodemos”; E São Gregória conclui: “Mas ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados”[1].
Teresa de Calcutá escreveu numa carta: “Eu estarei continuamente ausente do céu, para acender a luz daqueles que se encontram na escuridão”[2].
Guardemos a nossa Fé, irmãos. “Acredita-se com o coração” (cf. Rom 10.10). A Fé orienta os nossos passos no tempo, para o que é verdadeiro, justo, o que é de Deus.
Padre A. G.
[1] Cf. Liturgia das Horas, III semana da quaresma.
[2] Cit. Walter Kasper, Misericórdia, p. 188.