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CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ANTIGOS/AS ALUNOS/AS DO ENSINO CATÓLICO

Espaço aberto a comunicações de antigos alunos do ensino católico em Portugal.

Espaço aberto a comunicações de antigos alunos do ensino católico em Portugal.

CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ANTIGOS/AS ALUNOS/AS DO ENSINO CATÓLICO

17
Jan24

O SOM DA LIBERDADE


Oliveira

Ora, bem. Já agora, aproveitemos este artigo do Dr. Pedro Vaz Patto, que nos ajuda a pensar…

A G Pires

Quem, como eu, não tenha muito tempo para ir ao cinema, ou para de outro modo ver filmes, vê-se forçado a escolher bem os filmes que vê, para que não seja desperdiçado esse seu precioso tempo. Já a várias pessoas tinha ouvido recomendar o filme O Som da Liberdade, inspirado em factos reais de combate ao tráfico para exploração sexual de crianças e adolescentes (a acção de Tim Ballard, que resgatou desse tráfico um grande número de crianças).  Depois de ver esse filme, só posso dizer que foi uma óptima escolha e que não posso deixar de, também eu, o recomendar.

Também já me tinha inteirado de todas as polémicas associadas a este filme; a tentativa, vinda de uma facção política, de o instrumentalizar para alimentar uma teoria da conspiração sobre a cumplicidade de políticos nesse tráfico e, vindos de uma facção política oposta a essa, o boicote e a oposição como reação à eventualidade desse aproveitamento; a recusa da sua distribuição pelas maiores empresas do ramo e a mobilização popular como reacção a essa recusa que se tem traduzido num  êxito de bilheteira.

Mas o conteúdo, a mensagem e a qualidade do filme podem, e devem, ser apreciados sem preconceitos políticos e abstraindo dessas polémicas.

O horror da exploração sexual de crianças não é, para mim, por dever de ofício como juiz, uma novidade. São simplesmente irreproduzíveis, neste e em muitos outros contextos, as descrições de pornografia infantil que constam de processo judicias que já me passaram pelas mãos. Este filme também nos faz supor claramente esse horror, mas de forma decorosa e sensível e sem nunca o explorar morbidamente.

No meio desse horror, o filme retrata a beleza da inocência das crianças vítimas deste crime e a beleza dos laços que as ligam às suas famílias, de paternidade e de fraternidade. Descreve com forte carga emotiva a dor de pais e filhos, a dor da separação entre eles, simbolizada num quarto vazio. Reflete a dignidade dos pobres que são também essas vítimas.

Também com forte carga emotiva, apela a que cada pessoa, cada pai ou mãe, sinta cada uma dessas crianças como se fosse seu filho ou filha. E cada uma delas, como cada filho ou filha, é um bem precioso, único e irrepetível. Por causa de cada uma delas, que poderia ser nosso filho ou filha, vale a pena deixar o conforto de uma vida tranquila e até arriscar a vida, como faz o protagonista da história.

De um modo muito discreto, pode ser colhida uma inspiração cristã neste filme, que reflecte a fé dos seus produtores e actores principais: numa alusão às severas palavras do Evangelho sobre o escândalo dos pequeninos, na referência à intervenção de Deus na conversão de um criminoso num momento de desespero, na frase que sintetiza a motivação do combate a este crime: «os filhos de Deus não estão à venda».

Não posso, porém, omitir uma advertência. Os métodos de acção policial narrados no filme não seriam admissíveis à luz da legislação processual penal portuguesa e de muitos outros países, pelo menos no que diz respeito ao aspecto seguinte. Assistimos a um exemplo nítido de acção do chamado “agente provocador”, isto é., o agente policial que oculta essa sua qualidade no contacto com os agentes do crime (até este ponto será considerado apenas “agente infiltrado”, o que ainda será admissível, em determinadas condições, na nossa e noutras legislações) e que, para além disso, chega a instigar esses agentes à própria prática do crime.

A ilegalidade desse método justifica-se porque a acção policial não deve utilizar métodos desleais. Ainda que movida pelos fins mais louváveis de combate à criminalidades grave, não deve servir-se de quaisquer tipo de meios que a possam de algum modo aproximar da deslealdade própria de uma actuação criminosa.  

Penso que esta minha reserva não ensombra a mensagem central deste filme; a importância e urgência do combate a este crime, que, sem exagero, pode ser equiparado à escravatura. Numa altura em que muitos querem sublinhar os danos causados no passado pela escravatura, muitos também ignoram ou esquecem esta escravatura bem atual. No final do filme afirma-se até que o número de vítimas actuais desta forma de escravatura excede o das vítimas da escravatura no passado, quando ela era legal.

E recorda-se o poder que têm os “contadores de histórias” para despertar as consciências, como sucedeu com o célebre livro A Cabana do Pai Tomás e a influência que teve como contributo para a abolição da escravatura nos Estados Unidos. É algo de semelhante que pretende este filme, no que se refere ao combate ao crime de tráfico para exploração sexual de crianças e adolescentes. Oxalá possa ter algum êxito nesse sentido, para além dos êxitos de bilheteira.

Pedro Vaz Patto

16
Jan24

ELITE MUNDIAL REUNIDA EM DAVOS EM TEMPOS DE CRISE


Oliveira

Pelo que contém de muito actual e oportuno, a COPAAEC propõe para leitura e reflexão mais um artigo do jornalista A. Cunha Justo. Oportuno e conveniente, apesar de tudo…

(A. G. Pires)

O Fórum Económico Mundial formado pelos apoiantes da globalização e do liberalismo económico, desde há mais de 50 anos se reúne, para, segundo o próprio FEM, criar um mundo melhor! 

Em Davos, encontra-se reunida desde 15 de janeiro a elite político-económica mundial (governantes, políticos, organizações da ONU, “Máquinas do Pensamento”, chefes de grandes corporações, etc.).  Também participam 800 chefes de empresas das maiores corporações. Entre eles encontra-se o fundador da Microsoft Bill Gates, o criador de ChatGTP (AI) Sam Altman.

Enquanto a luta cultural se espalha a nível interno dos estados da Europa, as guerras culturais geopolíticas lembram as lavas de um vulcão, especialmente na Ucrânia e em Gaza. Os principais responsáveis pela crise estão ali representados. O presidente ucraniano Zelensky, também participa e certamente tentará influenciar o primeiro-ministro chinês Li Qiang, no sentido de rever as posições em relação a Putin. A lista de convidados também inclui pessoas que podem influenciar a guerra de Gaza: Primeiros-Ministros do Qatar, Iraque, Jordânia e Líbano; O presidente israelense também está presente e o ministro das Relações Exteriores iraniano é esperado.

Na Rede da Elite de Davos, são incentivados contactos pessoais à margem do público.

Os media afectos ao nosso sistema político referem que esta “elite global” é considerada pelos teóricos da conspiração como a inimiga número um, pois segundo eles (os teóricos da conspiração) em Davos seriam forjados Acordos secretos.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

16
Jan24

NOVO ENFOQUE NO MOLDAR DA MORALIDADE


Oliveira

Pelo que contém de muito actual e oportuno, a COPAAEC propõe para leitura e reflexão mais um artigo do jornalista A. Cunha Justo. Oportuno e conveniente, apesar de tudo…

(A. G. Pires)

Velho Adão ao encontro do Novo Adão

O Papa Francisco ao viabilizar a bênção a pessoas em situações irregulares dá início a uma teologia moral mais virada para a misericórdia e para a graça do que para o pecado. A bênção de homossexuais e a reintegração de divorciados na Igreja é o sinal de uma mudança de perspectiva moral com ênfase na compaixão, acolhimento e encontro, em vez da ênfase de tipo exclusivo na condenação e na culpa.

O Santo Padre, ao assinar o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé,  Fiducia supplicans (1), veio provocar mais ondas num oceano já muito agitado no Caminho Sinodal da Igreja! Isto levou o Papa, no passado 13.01, a explicar que na Igreja Católica se abençoam pessoas e não o pecado (2), quando falava a 800 padres da diocese de Roma...

A nova abordagem pastoral iniciada pelo Santo Padre não implica uma mudança nos ensinamentos fundamentais da Igreja Católica sobre a moralidade, mas sim uma ênfase diferente na aplicação desses princípios à vida cotidiana e às situações específicas. O Papa procura abordar as pessoas com compreensão e cuidado pastoral, numa atitude de encontro pessoal, reconhecendo a complexidade das situações individuais. O facto de sermos seres condicionadosnão 100% livres, condiciona também as avaliações morais e de valores. Em questões de moral, no âmbito católico, “a consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo” (4) ... A Igreja na qualidade de comunidade religiosa afecta a pessoa inteira com corpo, psique, alma e espírito; por isso, e devido à sua missão, será de sua natureza ir ao encontro da pessoa e embarcar com ela a partir do lugar onde esta se encontra... Com isto a Igreja não subestima a sua missão de apelar à responsabilidade com que o homem deve usar a sua liberdade no sentido do bem corporal e espiritual.

Daí a necessidade de integrar na visão humana a “Felix Culpa” (como refere Sto. Agostinho, o pecado de Adão e Eva possibilitou o anseio à perfeição que culmina na vinda do segundo Adão); no âmbito das possibilidades, o erro de Adão inerente ao ser humano e à instituição, que se repete nas biografias humanas e nas instituições pode também ele tornar-se em mal menor como factor de desenvolvimento; de facto também ele  possibilitou tornar visível na História Humana as pegadas da memória cristã (a Igreja) e desenvolve na pessoa humana o desejo de se aperfeiçoar e crescer. A nível sociológico e histórico se não tivesse havido o momento da culpa assumida exponencialmente a nível histórico no imperador Constantino e no movimento das cruzadas, hoje o Cristianismo estaria apenas presente em grupos de vida sem ter tido a possibilidade de humanizar institucionalmente a civilização ocidental. A Graça acontece a nível de relacionamento, de relacionamento pessoal e uma bênção não se fixa na forma do relacionamento porque esta é transcendida na ligação pessoal intrínseca que possibilita a relação de amor pessoal e o vínculo entre dois...

A “bênção pastoral” de pessoas a viver em situações irregulares é testemunho de um amor, não apenas carnal; ela aponta para a relação humana integral de que faz parte essencial a dimensão espiritual...

Para nos entendermos não chega fixar-nos numa forma de linguagem puramente racionalista e masculina. A linguagem poética é a forma mais adequada para se falar do amor e para se falar de Deus e da vida; ela tem um caracter mais criativo, mais feminino! O símbolo e o mito apontam para uma realidade superior à expressa na linguagem e no texto...

Jesus Cristo não se reduz à doutrina nem ao texto, ele é pessoa, o evento humano-divino, o acontecer do “tempo Cairos” (o presente eterno) a resgatar o tempo Cronos (do calendário) na pessoa e na sociedade...

A acentuação pastoral no amor (sinal de uma realidade espiritual) torna-se numa chamada optimista a não nos fixarmos moral e mentalmente apenas no modelo luz-treva que pela criação nos é dado viver e adverte-nos a temperar a maneira de ver maniqueísta: um modo de vida mental-político-religioso-social  demasiadamente centrado na dualidade (oposição luz-treva)  que estamos chamados a ir superando, muito embora partindo da situação existencial de carência....

A Conferencia Episcopal Portuguesa “reconhece o acolhimento de todos na Igreja e manifesta a plena comunhão dos bispos portugueses com o Santo Padre”.  

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Texto completo e notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8955

16
Jan24

NEM SEMPRE O MUNDO DÁ IMPORTÂNCIA AO QUE É MUITO IMPORTANTE…


Oliveira

Quantas vezes a Sociedade Humana se arrependeu das distracções, displicências ou esquecimentos de gravidade?

O seguinte artigo do Dr. Pedro Vaz Patto faz lembrar o aforismo a evitar enquanto há tempo: «tarde piaste»…

Não pode alhear-se dos crimes a ONU nem ficar insensível o mundo civilizado do século XXI.

Na era dos media e da IA, o conhecimento é essencial para perceber, partilhar indignação e promover acções vigorosas e eficazes pela justiça, a liberdade e a Paz.

A G Pires

ARMÉNIA DE NOVO ESQUECIDA

        Talvez distraídos com outros dramas que se vivem noutras partes do mundo (primeiro na Ucrânia, depois também na Terra Santa), a opinião pública internacional e a maior parte dos responsáveis políticos, não têm prestado a devida atenção ao que se passa no enclave de Nagorno-Karabach (ou Artsakh, como é designado pelos arménios), um enclave de população arménia rodeado pelo território do Azerbaijão. Depois de sufocadas as suas pretensões de independência em relação ao governo deste país, o medo das perseguições levou a que, em menos de um mês, cerca de cem mil pessoas (numa população de cento e vinte mil) abandonasse esse território e se refugiasse na Arménia: uma verdadeira limpeza étnica, que faz recordar outras que a comunidade internacional veio a lamentar mais tarde depois de nada ter feito para as evitar. Este êxodo não surge do nada. Segue-se a um bloqueio (que durava há dez meses) do chamado “corredor de Lachin”, o trajeto que liga esse enclave à Arménia. Esse bloqueio isolou esse pequeno território e privou a sua população de alimentação, medicamentos e energia.

       Parece incrível a indiferença generalizada diante desta tragédia. A indiferença dos responsáveis políticos ocidentais também será devida às vantagens de um bom relacionamento com o Azerbaijão, de quem dependem fornecimentos de gaz depois do boicote ao gaz proveniente da Rússia. A tradicional solidariedade da Rússia para com a Arménia tem-se esvanecido com os governos de Putin, agora focado sobretudo na guerra da Ucrânia.

          Este drama e esta indiferença não podem deixar de ser relacionados com outro drama e outra indiferença também vividos pelo povo arménio há pouco mais de cem anos: o genocídio de 1915 (cerca de um milhão e meio de mortos, mais de dois terços da população da chamada Arménia Ocidental), o primeiro de vários genocídios ocorridos no século XX, como tal reconhecido hoje por vários Estados (e também pelo Vaticano), reconhecimento a que continua a opor-se o governo turco, herdeiro dos responsáveis por tal crime. Também nessa altura a comunidade internacional não reagiu, vindo depois (até hoje) a lamentar profundamente não o ter feito.

          Estas duas tragédias que atingem o povo arménio não são factos isolados. Tal como o genocídio de 1915 culmina contínuas e variadas perseguições, assim sucede com o actual êxodo da população de Artsakh. Essas histórias de perseguições são narradas no livro do jornalista francês Frédéric Pons, L ́Arrménie va-t-elle disparraìtre? – Un conflit oublié aux portes de l ́Europe (Artége, Paris, 2023), um livro escrito pouco antes desse êxodo, mas que tornava este bem previsível à luz do que nele se narra sobre a situação desse enclave.

        Temer a desaparição da Arménia, para o que aponta o título desse livro, por muito graves que tenham sido as perseguições sofridas pelo povo arménio ao longo da história, poderá parecer exagerado. Foi o que pensei antes de ler este livro. Mas fiquei com a impressão de que esse temor não será completamente infundado depois de ler nesse livro declarações públicas do actual presidente do Azerbaijão que, para além de denotarem intenso ódio para com o povo arménio, não escondem a vontade de conquista de, pelo menos, parte do território da Arménia e o uso da manipulação da história para o justificar (a manipulação da história como arma de guerra, a que assistimos também noutros contextos). Por detrás dessas declarações, juntamente com outras de governantes turcos, está o chamado panturquismo, a vontade de estender o domínio dos povos de cultura turca em todo o território que vai de Istambul até à região chinesa de Xinjang. Essas declarações, vindas de um dirigente de um país membro do Conselho da Europa (como era a Rússia antes da invasão da Ucrânia) e a indiferença com que têm sido recebidas, também não deixa de surpreender e chocar.

        Salienta esse livro também um aspecto da maior relevância. A Arménia, a sua história e a sua cultura são um bastião do cristianismo no meio de povos de cultura muçulmana. A tradição faz remontar a sua evangelização aos apóstolos Bartolomeu e Matias. As conversões ao cristianismo deram-se sobretudo a partir do século III até que no ano 301 (antes da conversão do imperador romano Constantino) se deu, graças à ação de São Gregório, o Iluminador, a conversão do rei Tiridates III, o que faz da Arménia o primeiro Estado oficialmente cristão do mundo. Desde então (e apesar da separação de Roma em 451), a cultura da Arménia tem sido marcada pela indelével presença do cristianismo. Também a perseguição ao povo arménio se tem traduzido, ao longo dos séculos, pela destruição de sinais dessa marca, como igrejas e mosteiros.

           Por acaso, tive ocasião de verificar essa relevância da identidade cristã da Arménia ao visitar a exposição “Tesouros do Museu da Terra Santa”, onde se alude à ligação do arménio mais conhecido e estimado em Portugal, Calouste Gulbenkian, à Terra Santa.

            Convém sempre não confundir conflitos entre povos cuja identidade está profundamente ligada a uma religião, com uma guerra de religiões, como se estas fossem a raiz desses conflitos. Mas tal não significa que se ignore que por detrás das perseguições que atingem o povo arménio, ao longo da história e até hoje, está também uma perseguição à sua fé e à sua cultura cristãs. Também esse é um motivo para não esquecer a Arménia.


Pedro Vaz Patto

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