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CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ANTIGOS/AS ALUNOS/AS DO ENSINO CATÓLICO

Espaço aberto a comunicações de antigos alunos do ensino católico em Portugal.

Espaço aberto a comunicações de antigos alunos do ensino católico em Portugal.

CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ANTIGOS/AS ALUNOS/AS DO ENSINO CATÓLICO

05
Fev21

Não nos esqueçamos da hospitalidade


Oliveira

«Herodes, num dia do seu aniversário, ofereceu um banquete»

A hospitalidade leva-nos a fazer o bem e não o mal.

Ao encontrarmos alguém, não o acolhamos somente por cortesia ou educação, mas com amor, 

com um coração que aquece o coração do outro e acende o fogo do amor fraterno.

Não se esqueça da hospitalidade (cf. Hb 13,2)

Porque é que tanta controvérsia ideológica e tanto confronto 

parecem impedir-nos de sonhar com uma sociedade fraterna? 

Um dia todos teremos que responder a Deus se, 

apresentando-se como um "estrangeiro", o acolhemos ou não. (PM)

03
Fev21

O sofrimento da nossa vida à luz da fé


Oliveira

Proposta de Homilia para o 5.º Domingo – ANO B

7 de Fevereiro de 2021

Irmãos, nós sentimos o problema do sofrimento. Procuremos alguma luz.

  1. O sofrimento no exemplo de Job

Primeira leitura

Qual o motivo do sofrimento? Por que Deus nos deixa sofrer? Não é fácil encontrar resposta. Temos alguma luz, na Palavra de Deus. Podemos ver a experiência de Job. Este patriarca do Povo de Deus sofreu mais de que se pode imaginar. Perdeu saúde, a família, os amigos, os bens, os rebanhos; ficou na solidão, um dos maiores sofrimentos. E chegou a dizer: “Os meus dias passam mais velozes do que uma lançadeira no tear, e desvanecem-se sem esperança”.  

     Mas Job teve uma feliz reflexão: confiou em Deus. Mostrou-se um crente, cuja única esperança está em Deus: Ele confessou: “Eu sei que o meu Salvador vive… e em minha carne verei a Deus” (Job 19, 25-26). E, por fim, Deus recompensou-o multiplicando-lhe tudo o que Job tinha antes, em bens e em filhos. Reconheceu: Deus ama-me.

  1. O sofrimento iluminado por São Paulo

Segunda leitura 

A expressão de São Paulo: “ai de mim se não anunciar o Evangelho” mostra-nos o coração do Apóstolo que se enamorou com santo amor por Jesus, e sentiu imensa necessidade de o dar a conhecer. Ele sabe que só Jesus dá sentido à vida e a ilumina, com a sua palavra e a sua vida. Por isso Paulo aceitou sofrer: “trabalhos, açoites, prisões, naufrágios…” (2 Cor 11, 23-29). Mas sempre firme com a sua fé em Jesus, que ele queria anunciar. Paulo mostra-nos como ele anunciou à comunidade de Corinto, “Jesus Cristo crucificado”. “Apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor… para que a vossa fé não se baseasse na sabedoria humana… a minha palavra e a minha pregação baseia-se no Espírito Santo”. 

     Disse o Papa Francisco, numa homilia em Santa Marta: “Jesus não abre um escritório de aconselhamento espiritual”,[1] das tantas horas às tantas. Ele foi para o meio do povo, a libertar.     

  1. Sofrimento no mistério de Deus, amor

Evangelho 

Deus não deseja que os seus filhos sofram. Olhemos para Jesus e o seu cuidado pelos que sofrem: Jesus cura os doentes, expulsa os demónios, multiplica os pães, acolhe os pecadores, come com eles. Na página de hoje: “Curou a sogra de Pedro, curou muitas pessoas, expulsou muitos demónios…Foi por toda a Galileia expulsando os demónios”. Quer afastar o sofrimento.

     Um exemplo do Papa. Em 27 de Fevereiro de 2015, em Manila, a menina Glyzelle de 12 anos, e um menino, vestidos de branco, fizeram um pequeno discurso ao Papa Francisco. A menina Glyzselle perguntou: “Por que sofrem as crianças?”. E molhou as palavras com lágrimas. Os dois aproximaram-se do Papa Francisco, e receberam o abraço dele. Dirigindo-se ao povo, respondeu o Papa: “Ela fez a única pergunta que não tem resposta. E não lhe vinham as palavras; teve de as dizer com lágrimas… A grande pergunta que se põe a todos: por que sofrem as crianças? Precisamente quando o coração sangra… Falta ao mundo de hoje a capacidade de chorar. Choram os marginados…os que são deixados de lado…choram os desprezados… Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas”[2]. Queremos dizer a quem sofre: estou aqui, contigo. É uma conclusão sobre o sofrimento. Um caminho: ajudar os que sofrem. “Cuidar”, pede o Papa.

P. António G. (SDB)

[1] Frase na internet

[2] Google: Papa nas Filipinas

03
Fev21

REZAR O DESCONFORTO DESTE TEMPO


Oliveira

Partilho o texto da meditação/oração do terço do dia 2 de Fevereiro do Cardeal Tolentino de Mendonça enviado pelo Ir. Manuel Silva

(A. Oliveira)

Senhor, temos dificuldade em definir o tempo que estamos a viver. A impressão profunda que sobrevém é que se trata de um tempo congelado no presente. De um tempo sem estações que verdadeiramente o diferenciem ou o conduzam por estradas variadas, como estávamos desde sempre habituados. Sentimos, pelo contrário que, tantas vezes, se precipita sobre nós um desconhecido temor e aquela inicial incerteza, que primeiro apenas gotejava dentro de nós, corre agora o risco de alagar a alma. Porque o confinamento, vamos descobrindo pouco a pouco, não é só aplicado ao corpo. É como se o mesmo isolamento e a mesma distância social que o corpo tem de cumprir se tornassem também em medidas para ser observadas pela nossa alma. E daí, Senhor, este desconforto imenso que hoje queremos trazer até Ti.

Ajuda-nos a rezar este presente difícil de abraçar.

Ensina-nos para que pode servir tudo isto.

Desmente, Senhor, esta sensação que temos, por exemplo, em relação ao ano que passou, achando que ele foi simplesmente um ano queimado ou deitado fora.

Que, com a Tua Luz, saibamos colher a lição; saibamos fazer contas com o que nos foi dado e não só retirado, por muito misterioso que isso nos possa parecer; saibamos colocar ainda mais a nossa vida frágil, e a de todos aqueles que amamos, no côncavo da Tua mão.

Que Maria, que viveu tantas provas ao longo do seu caminho, seja nossa mestra.

Cardeal José Tolentino de Mendonça
2.02.2021

01
Fev21

O VÍRUS TOCA A TODOS


Oliveira

Sim, ele toca a todos, toca com todos e toca em todos.

Ainda hoje é o dia em que reflito nas palavras de um político alemão que em 2019 disse estas palavras incisivas em tempos de pandemia: "provavelmente teremos todos de nos perdoar muito uns aos outros".

Fala-se muito sobre o significado de regulamentos, sobre responsabilidade, justiça e injustiça,  renúncia e solidariedade. 

Formam-se frontes em famílias, amizades separaram-se; as opiniões endurecem de modo a haver violência, mental e física.

Facto é que na incapacidade de se possuir toda a informação não sabemos o que é certo ou errado, porque muito só pode ser julgado em retrospectiva.

Cada um tem de decidir com o melhor dos seus conhecimentos e consciência. Isso não é porém suficiente atendendo aos próprios limites e fraquezas. Muitas vezes, quem mais se afirma e impõe são os mais frouxos de caracter.

Um caminho que nos serviria a todos, são as palavras de Jesus: "Sê misericordioso como o teu pai é misericordioso"( Lucas 6:36).

O perdão é um momento nobre da misericórdia.

Ao referir-me aqui à misericórdia entendo-a como  uma qualidade de carácter pela qual se entra em sintonia com a própria precaridade e com a precaridade dos outros (compaixão). Ao sentir a dor dos outros compreendo melhor a minha e sou levado a solidarizar-me com os pobres, os oprimidos, aqueles que são marginalizados.

É um entrar em ressonância com o todo sem se perder nele! A atitude de compaixão e misericórdia pode conduzir-me a  perceber melhor os meus semelhantes e a ter um coração quente para eles.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=6342

JÁ VAI SENDO TEMPO DE MUDAR-SE PARA SE PODER MUDAR PORTUGAL

O problema mais grave é o facto de todos estarmos comprometidos com os parlamentares que elegemos e com os Governos que temos tido. Na controvérsia política o sistema consegue desviar a atenção dos portugueses para canto e toda a gente é levada a olhar só para os males do vizinho.

Os responsáveis do atual sistema, em que a corrupção se tornou aceite, movem as forças da nação para o ceguinho que tem apenas um deputado no parlamento como se esse fosse o problema de Portugal!

Não se quer reconhecer que o rei vai nu!

O sistema corporativista português de grupos de interesse e de grandes famílias de amiguinhos chegou a um ponto em que não é possível servir-se Portugal e os portugueses; trata-se sobretudo de administrar a miséria e servir clientelas ideológicas e grupos económicos que criem chances para as mesmas clientelas. Os interesses do povo não contam.

Ao contrário do que se deu na Alemanha onde depois da guerra as classes sociais se tornaram permeáveis, em Portugal continuou-se na velha tradição da sociedade medieval: os grupos de interesse, as famílias fortes permanecem cerrados em si mesmos não abrindo entrada para uma nova geração de pessoas competentes.

Mais que apelarmos a votos seria óbvio que se apelasse a uma mudança de consciência e de atitude política. Se isso acontecesse, os sedentos do poder logo se orientariam por essa nova consciência.

Os que seriam capazes de mudar o sistema estatal não estão interessados nisso porque desta forma se aproveitam mais dele. A classe política em Portugal geriu mal e o país deveria chamá-la à responsabilidade e levá-la a cumprir a sua pena para que o país não continue a ser penalizado!

A classe política perdeu grande parte do crédito porque abusou do poder que o povo lhe deu para se servir a si própria.

O Problema não é Ventura, um partido com um deputado, mas o medo dele que não deixa ouvir aquilo em que ele terá razão. Este medo é parte do problema porque dá razão aos que administraram mal o país!

Porque haver tanto medo de uma extrema direita irrelevante e elevada a notícia pelos que se deveriam penitenciar?! O povo pode, ocasionalmente, votar não por convicção, mas por estratégia para que deste modo se erga no Parlamento não só as vozes dos que nos conduziram à situação em que nos encontramos.

Em política não haverá um bom caminho; há muitos caminhos possíveis e estes são sempre determinados por quem tem mais poder!

Penso que a pandemia, por mais complexa que ela seja, é mais um bom pretexto para que o medo nos continue a disciplinar e a dominar e deste modo ajudar a manter o status quo!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=6344

Recomendável:

https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=858231791632749&id=436088787180387

CONTRA A FRUSTRAÇÃO DA PANDEMIA

E OUTROS DESENCANTOS

Com o prolongar-se da situação pandémica, passamos a questionar-nos mais sobre o sentido de muito que se faz ou se tem feito.

Uma das estratégias que uso, para não me sentir reduzido à própria inércia, é refugiar-me na escrita como campo aberto; todos nós gravitamos em torno de algo embora mais ou menos conscientes de que fazemos parte mais do que de um sistema (fazemos parte não só do sistema solar de um universo que, por sua vez, faz parte do sistema divino: a energia solar e divina encontram-se também reunidas sob a forma de vida)! Na escrita sinto, por vezes, o calor que me dá alento para momentos sombrios ou frios do sistema social.

Como encaro a vida com espírito positivo, torna-se mais fácil observar situações que de uma perspectiva pessimista levariam a um verdadeiro tormento.

Todos somos diferentes e, como tal, torna-se importante uma elaboração equilibrada do próprio “orçamento” psicológico, relacional e social.

O mundo e o que nos rodeia serve enquanto se serve. Uma visão espiritual poderá ajudar-nos a sair desse impasse desde que, também ela, não se torne apenas num circuito de serviço a si mesmo.

Dado muitas das medidas contra o vírus não encontrarem compreensão acabada, cada um, para não cair em depressão terá de aprender a andar com os pés na terra que temos e a recompensar-se a si mesmo.

Quando a esperança diminui, aumenta a frustração. Como pessoas sociais que somos precisamos de ligações e relações para nos mantermos física e psiquicamente saudáveis.

Para se não cair no trato rotineiro dos poucos contactos habituais que nos é dado ter, seria de compensar o distanciamento corporal com outros contactos sociais através de actividades criativas ao alcance, online, etc. Confesso que embora pense assim não consigo, muitas vezes, realizar aquilo que acho que seria bom para mim e para outros.

O optimismo ajuda a ver-se no negativo também uma perspectiva positiva facilitando a iniciativa para se poder tentar novas experiências onde se possa ter ou sentir sucesso.

Nós somos o encontro de todas as energias e como tal núcleos de interacção e inter-relacionamento e, como tal, não podemos ficar-nos apenas pelas energias ou forças de atracção ou de repulsão!

Gratidão e agradecimento pelas coisas pequenas do dia-a-dia ajudam-nos a abençoar a vida!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempohttps://antonio-justo.eu/?p=6338

01
Fev21

Eutanásia - voltar à pena de morte


Oliveira

Uma consideração-comentário e o artigo de um Jornalista, AASDB

Boa noite a todos!

Quanto à eutanásia, sou do parecer que esta ao ser equacionada sob interesses do Estado, se torna num grande perigo para a sociedade, passando, de facto,  a ser legalizado o homicídio. É realmente lamentável que um país de raízes cristãs confunda progresso ideológico com desenvolvimento e se torne no  “quarto país na Europa e no sétimo no Mundo” a viabilizar a eutanásia institucional.

Os nossos parlamentares comportaram-se como o ladrão da noite, deliberando sobre o assunto em sessão sombria e até os Média não deram a tempo a informação do que se passou no parlamento!

Junto aqui um artigo reflexão que já fiz há mais tempo e julgo oportuno neste momento. Também sou do parecer que o Presidente da República deveria bloquear a decisão que o parlamento indignamente determinou!

Um bom fim de semana para todos

António Justo

EUTANÁSIA ENTRE IDEOLOGIA CONSCIÊNCIA E ÉTICA

Nascer Viver e Morrer mais que um Direito é Graça

A vida é feita de luz e sombra; a morte é a sombra da vida; a matéria é a sombra do espírito. Afirmar a sombra sem a luz, defender a cultura da morte sem ter em conta a cultura da vida, corresponderia a um reducionismo da existência à sua sombra, significaria a negação da vida, porque, a que temos é polar, é um todo feito de dor e alegria. Se nos preocupamos só com a sombra perdemo-nos no abismo do ser, esquecendo que a sombra é apenas uma ilação da luz e que a paixão inclui a ressurreição!

A discussão sobre a eutanásia oferece a oportunidade de se reflectir sobre a existência nas suas componentes, vida e morte.
Hoje, a pressão de ligas e organizações internacionais (organizações da ONU, Bruxelas, certas Faculdades universitárias, etc.), sobre a opinião pública e os parlamentos, é de tal ordem que se cria, nas opiniões públicas nacionais e parlamentos, a ideia de que seguir aquelas é moderno e sinal de desenvolvimento. Fatal para o desenvolvimento qualitativo é que o povo não pensa, segue a moda.

Prática na Alemanha

A Alemanha, antes de publicar a lei sobre a Eutanásia, teve uma discussão pública alargada e sem cólicas sobre o assunto; a ela seguiu-se o debate parlamentar com muita profundidade e dignidade, deixando fora o discurso ideológico e político-partidário, cada deputado decidiu apenas à luz da sua consciência. O parlamento proibiu o suicídio assistido e criminalizou o comércio com a eutanásia.

Concretamente: nem indivíduos nem empresas podem funcionar como serviços de apoio à eutanásia. Quem fizer negócio com um medicamento mortífero que entregue a uma pessoa com cancro/doença incurável, é ameaçado com 3 anos de prisão. O suicídio em si não é penalizado. Na Alemanha a ortotanásia (abreviação da morte desligando aparelhos e renunciando ao emprego de medicamentação de prolongamento da vida) é permitida desde que o moribundo o tenha declarado em estado consciente. Neste aspecto a Alemanha pronunciou-se no sentido de uma sociedade de valores cristãos.

Prática na Holanda

Na Holanda, na Bélgica e no Luxemburgo a eutanásia é legal mas mete medo a muitos idosos que, com receio que os familiares disponham sobre eles, preferem emigrar: http://www.dw.com/pt/idosos-fogem-da-holanda-com-medo-da-eutan%C3%A1sia/a-1050812

A ética secular serve-se do relativismo como doutrina

Platão defendia a eutanásia para a pessoa inútil à economia e à sociedade. Na antiguidade era comum a prática do homicídio contra as crianças deficientes. Hitler procedia de igual modo, desde que a doença fosse atestada por três médicos.

Nalgumas sociedades ocidentais e em sociedades materialistas comunistas regista-se uma tendência para a elaboração de leis (pena de morte, aborto, eutanásia e outras) que se baseiam apenas numa filosofia utilitária e pragmatista, muitas vezes elaboradas contra os próprios ideais da Constituição. Parte-se de um princípio de liberdade como posse e de vida como produto na praça do mercado.

De uma maneira geral, os defensores da eutanásia fundamentam a sua opinião no materialismo que relativiza a vida humana, não a aceitando como valor máximo e negam-lhe qualquer sentido metafísico, reduzindo a existência a mero processo de forças biológicas naturais. Pretendem um diagnóstico e uma decisão sem a análise das suas consequências.

Na sequência de uma ética secular (laica) a “eutanásia selecionadora ou eugénica” será aplicada a recém-nascidos no sentido da selecção social. Como se fala hoje da eutanásia falar-se-á amanhã da purificação da família, do povo ou da raça.

Querem uma ética pragmática servidora do momento e da ocasião, chegando até a contestar o imperativo categórico de Kant: a fórmula sumula do desenvolvimento da ética e do conviver humano (“Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal.”).

reducionismo relativista e materialista, de que pecam muitos defensores da eutanásia, é alérgico ao pensamento integral e complexo; refugiam-se na ilusão de querer construir uma realidade semelhante a um rio com a água mas sem o leito.

Ética religiosa

A ética cristã bem como a moral das religiões em geral (budismo, induísmo, judaísmo e islão) é contra a eutanásia e contra o matar. O valor ético e moral da integridade e dignidade humana tem prioridade sobre princípios económico-políticos subsidiários.

A ética cristã, uma ética da excelência, que se aperfeiçoou, crivando as vivências dos diferentes povos e culturas ao longo dos séculos, considera a vida como bem maior e, como tal, a promover e defender e, consequentemente, não a interromper. Na Bíblia o rei Saul (Samuel 31, 1 a 13) pediu a morte e, como o escudeiro o não matasse, Saul atirou o corpo sobre a espada para se matar mas os desígnios divinos revelaram-se mais fortes, tendo ele sido finalmente morto por um filisteu. Jesus até recusou, livremente, o hissope.

A Encíclica Evangelium Vitae indica: a eutanásia é crime contra a vida e contra a dignidade humana pois a vida, e em especial a humana, é sagrada (inviolável). Uma coisa é causar a morte (eutanásia activa) e outra coisa é deixar morrer; o cristianismo não quer a dor mas reconhece também na aceitação da dor, em estado consciente, a oportunidade para crescer espiritualmente, dado a vida ter vários estádios e continuar depois da morte. Consequentemente a compaixão comporta o prolongamento da vida e não da agonia. Os analgésicos e a ortotanásia, desde que não tenham como causa directa a morte, são meios importantes em muitas situações, também na possibilitação de uma expressão mais condigna com a pessoa no estado moribundo. Neste sentido ainda há muito a fazer!

Controvérsia

O facto de os cuidados paliativos não impedirem “por inteiro a degradação física e psicológica”, como argumentam os que querem a antecipação da morte por suicídio assistido ou por eutanásia activa (um terceiro mata), não é suficientemente fundamentado, como medida geral, contra a morte natural ou contra a eutanásia passiva (suspensão de terapias de prolongamento da vida determinada por testamento vital – distanásia – previsto na lei desde 2001).

Em Portugal a recomendação da eutanásia torna-se cínica quando mais de 50% pacientes terminais morrem sem poderem ter acesso aos Cuidados Paliativos, consignados na Lei nº 52/2012 de 5 de setembro: cf. http://cdn.impresa.pt/efe/684/8198872/Posicao_da_APCP_-sobre-manifesto-PEut-vfinal.pdf

A controvérsia é boa para o apuramento de conclusões elevadas e para o crescimento humano intelectual e espiritual. A controvérsia é perniciosa quando enquadrada em posições estanques que querem ver tudo regulado pela lei.

Um direito implica a liberdade de escolha e esta não é plausível no nascer e no morrer. Fala-se do direito à morte como se fala de um direito adquirido ou um poder outorgado a executar em plena liberdade e como se uma pessoa em estádio terminal que dá trabalhos estivesse isenta de qualquer coibição psíquica ou social sendo-lhe indiferente o peso e o encargo que a sua situação representa para os familiares e para o próximo. Não é lógico, em nome da liberdade, recomendar uma decisão que exclui definitivamente uma outra alternativa posterior. O problema da liberdade para a eutanásia vem da irreversibilidade do acto. Os actos livres implicam sempre uma alternativa possibilitadora de continuidade. A vida é um dom, a morte é problema e não solução… O medo da dor, mais que da morte, leva à conclusão falaciosa de que o morrer é que dá dignidade à vida e não a vida que dá sentido e dignidade à morte.

Muitos adeptos da eutanásia activa, contraditoriamente ao seu argumento de liberdade humana, recusam ao Homem a sua capacidade de liberdade negando a validade da sua subjectividade, ao alegar que o ser humano não pode preservar a subjetividade que o assiste.

Com o argumento de que a vida nos foi imposta e da formação que nos foi dada, consideram-nos seres condicionados que, realmente, também somos, mas não só; este condicionamento não lhes dá o direito de nos condicionar e formatar segundo os seus princípios modelares, querendo-nos, para tal, reduzidos à animalidade inicial, negando-nos uma obediência orgânica para nos outorgar uma obediência de lógica ideológica. Este reducionismo é consequência de um reducionismo maior que consta de elaborar e conceber a vida em termos só racionais, esquecendo que a pessoa é feita de Razão e Coração e a razão pode ser enganada ou confundida por diferentes lógicas tal como o coração por diferentes emoções ou sentimentos. Nem o princípio coração nem o princípio razão têm o senhorio sobre a vida ou sobre a realidade; o Homem completo consta de Razão e Coração numa relação de complementaridade. Se houve tempos em que as elites das sociedades menosprezavam as faculdades da razão hoje menosprezam as faculdades do coração.

A pessoa não pode ser reduzida à biologia, aos padrões de uma dada sociedade ou época nem tão-pouco à jurisprudência; nem sequer pode ser considerada como mero objecto, dado este conceito delimitar o cidadão a um objecto de direitos e deveres, na perspectiva da polis.

Quem se legitima nisto como juiz? O facto de a constituição reconhecer ao Homem o direito à vida não é ela que a dá ou a tira nem a lei criada por um parlamento pode ter poder de deliberar sobre existência ou não existência de uma pessoa. O apoio humano limita-se ao calor humano e à diminuição da dor. A pessoa tem “direito” a ser feliz na vida independentemente de esta ser considerada no além e no aquém; nem sempre a saúde é um pressuposto de felicidade como prova a existência de muitos deficientes.

O moribundo tem direito a uma morte digna e tranquila, o que não inclui o direito ao abuso nem ao homicídio por compaixão. É dolorosa a situação de familiares que assistem a moribundos ou pessoas em estado vegetativo. A sociedade deveria acarinha-los e assisti-los não os deixando sós na responsabilidade e na dor. Esta pode ser uma oportunidade para se optar mais qualidade de vida.

A assistência a moribundos é um assunto muito delicado e controverso que não deveria provocar posições radicais. É insuficiente ficar-se por propostas que pretendem uma ética temporal meramente pragmática sem ter em conta a experiência secular da ética religiosa e sem a deontologia médica. Este é um assunto que não se pode solucionar com uma simples “receita”. É louvável o facto de esta matéria, ao contrário de outras, estar a ser objecto de uma discussão na opinião pública antes de chegar ao parlamento.

A existência seria chata se não fosse o movimento; nela também a controvérsia é um passo no sentido da vida.

Reflectindo

O direito de morrer com dignidade deveria constituir um dado geral aceite, o que não implica desresponsabilizar a pessoa pelos actos que faz, ou tirar por lei a responsabilidade a quem mata como se estes fossem privados de consciência e não houvesse meios de evitar não matar.

Enquanto as pessoas de moral responsável discutem a defesa da vida, as pessoas tendentes ao poder agem contra ela, caindo no equívoco de que na vida se pode ter tudo na mão e de graça. A despenalização da eutanásia revela-se um mau caminho que abre espaço aos negociantes da morte e a uma vida mais leviana e irreflectida.

A defesa da cultura da morte, do aborto, da eutanásia parte de um princípio hedonista e materialista da existência. Evita a reflexão e a controvérsia séria, preferindo uma receita que embote a consciência popular. Ao falarem do direito a decidir sobre o próprio destino esquecem que o ser humano é influenciável sendo difícil poder fixar o limite entre o objectivo e o subjectivo. A vontade também está sujeita a medos… Faz-se da liberdade tabu esquecendo que esta é apenas um factor importante de vida mas a vida tem muitos outros reguladores sem os quais seria impossível a sua expressão.

A religião transmitiu valores construtivos, optimistas e positivos contrariados agora pelo niilismo que não pára perante a destruição pessoal como se a pessoa se reduzisse a uma ideia abstracta ou a uma nostalgia passageira ao serviço de interesses e ideias fortemente encaixilhadas. Em nome da terra e da “realidade”, negam a sua atmosfera ou consideram-na como algo distante e pesado como se a transcendência não tivesse sido o oxigénio que mantem e desenvolve o ser humano. Mataram Deus e na sequência querem a morte do Homem espiritual. Desiludidos de Deus e do espírito viram-se agora para a terra embrutecida – materialismo- querem a população prisioneira da “caverna platónica” sem luz, a viver da escuridão e da tanatofilia, como se a perspectiva da luz fosse algo contra a vida e iludisse a realidade da morte.

Culpabilizam a religião de se opor a soluções simplicistas ou de surgir como obstáculo ao exigir reflexão. Querem a dignidade vinculada à circunstância e não à pessoa para a porem à disposição da ideologia em favor de um poder ad hoc. Demonizam, por vezes, a religião cristã pelo facto de esta ver no Homem um absoluto. O poder ideológico secular encontra-se em rivalidade com o religioso quando, no sentido do Homem, se deveriam complementar; aquele constrói a sua força na aquisição de seguidores quando a força motivante e movente deveria ser o bem integral e integrante.

Muitos não vêem com bons olhos a renúncia que apela à metafísica, à imagem do esforço da natureza ao tentar erguer-se na procura do Sol; não basta a ilusão de que a natureza do Homem se reduz à procura de um lugar soalheiro mas sem Sol; de facto, equivaleria a exigir do Homem uma outra renúncia: a renúncia a si mesmo para, na qualidade de mero elemento, se colocar à disposição da matéria que, com o seu poder inerente, seria reduzido ao poder do mais forte, contradizendo a herança cultural e ética judaico-cristã e dos povos que levou a civilização ocidental ao nível em que se encontra nos seus aspectos positivos e negativos.

Muitos militantes da eutanásia revelam-se, na consequência, contra a consciência humana que é uma percepção dinâmica de luta pela liberdade, uma luta das forças escuras contra a luz que ilumina a “caverna” platónica.

Consequentes na sua negação de Deus e da ordem criada tornam-se tão imateriais na sua especulação chegam a defender o direito de nunca se ter nascido! Esta posição que consequentemente legitimaria a prática da selecção darwinista social que motivou Hitler a mandar matar deficientes e a mandar castrar pessoas com certas doenças hereditárias: tudo isto em nome de uma liberdade e de uma felicidade que veria em cada deficiente um infeliz a quem seria dado o direito de se antecipar à dor e assim voltar ao estado do não criado e assim, à sua custa, a sociedade tivesse mais disposição de bens materiais.

A liberdade individual é uma consequência da espiritualidade e do desenvolvimento humano; a liberdade humana revelou-se como força inclusiva e não exclusiva, possibilitando assim a arquitectura cultural e social a que chegamos. É interessante verificar-se pela arqueologia que o desenvolvimento da sociedade começou em torno da morte (lugares de culto). A vida não nega a morte nem a morte nega a vida; ambas são duas formas de estar da existência.

O desejo da morte assistida (eutanásia) surge, por vezes, da falta de assistência e solidariedade por parte da sociedade e do próximo, que não se querem responsabilizar porque consideram a existência reduzida aos seus aspectos de luta primitiva e individual pela vida. Desvinculam o ser individual do ser social (zoon politikon) para que a sociedade se possa desenvencilhar, sem dores de pensamento nem custos, do que se torna incómodo e daquilo que a poderia comprometer.

Nestas coisas não chega uma política do levantar a mão no parlamento. Também não é bom fomentar-se a má consciência, nem tão-pouco estimular a consciência leviana, mas sim possibilitar discussões públicas sérias e reflectidas para que, cada cidadão se levante da massa e possa tornar-se mais consciente para se orientar e decidir com o máximo de conhecimento e liberdade: só então pode ser responsável e tomado a sério nas decisões que toma.  A discussão sobre a eutanásia – matéria muito complexa – não pode ser encurtada por uma política ou ideologia qualquer, até porque as massas abdicam da reflexão e da própria responsabilidade julgando como matéria segura o que se encontra legislado e dado a vida e o seu sentido implicarem uma reflexão das diferentes disciplinas complementares, desde a bioética, à medicina e à teologia. A pessoa e a vida não devem ser relativizadas, devem ser reconhecidas como bens absolutos que, na modelação da própria vida segundo o imperativo categórico kantiano, superam o poder dos Estados (A pena de morte, para um cristão significa a usurpação do estado que exerce o poder sobre algo que o supera).

O direito de decisão é conferido por Deus ao indivíduo (a religião apenas o formaliza); nenhuma ideologia ou lei poderá assumir-se o direito de o manipular ou de se livrar dele mesmo quando sob o pretexto de ajuda. A lei e a norma tendem a fazer de um caso todos os casos embora a consciência de cada um seja inalienável.
É fácil apregoar-se como filantrópico a oferecer às pessoas o direito de acabarem com a sua vida ou com a vida do outro em seu nome ou das circunstâncias.

O cristianismo acentua a assistência solidária e caritativa na morte, também com o emprego de paliativos, respeitando sobretudo a consciência individual e a responsabilidade da decisão reflectida de cada um. Não chega ver as ondas da superfície; é preciso criar-se espaço para se poder perscrutar e sentir o que elas encobrem das profundezas do mar. Esta é a advertência necessária mas sem coibir!

A vida é o positivo da existência, é optimista não se deixando perder em qualquer beco pessimista sem saída nem tão-pouco reduzir-se ao seu negativo. A vida chama e tem um sentido e este é infinito; a existência inclui nela o Sol que dia-a-dia convida a natureza ao esforço do levantar-se para a luz. Que seria da borboleta se no seu estádio de casulo, em nome do direito e da liberdade, fosse impedido o seu desenvolvimento!

A alma treme perante o vazio, mas entre os calafrios pressente, no extremo do túnel da existência, uma luz quente que sempre brilha e a espera!
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo
Comentários interessantes em: Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=3488

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